No início deste ano, a Administração Oceanográfica e Atmosférica Nacional dos EUA e o Serviço Geológico Britânico foram forçados a atualizar o Modelo Magnético Mundial um ano antes do previsto devido à velocidade com que o polo norte magnético está se deslocando para fora do Ártico canadense, e em direção à Sibéria, na Rússia.
O Serviço Geológico Britânico (BGS, na sigla em inglês) e a Administração Oceanográfica e Atmosférica Nacional (NOAA, na sigla em inglês) lançaram uma nova atualização do Modelo Magnético Mundial nesta semana, confirmando que o polo norte magnético, cujas coordenadas são cruciais para os sistemas de navegação usados pelos governos, forças armadas e uma série de aplicativos civis, continua sua marcha em direção à Sibéria.
"O WMM2020 prevê que o polo norte magnético continuará se deslocando em direção à Rússia, embora a uma velocidade lentamente decrescente. Vai descer para cerca de 40 quilômetros por ano em comparação com a velocidade média de 55 quilômetros nos últimos 20 anos", disse a agência americana em um comunicado de imprensa.
Os dados confirmaram que, neste ano, o polo norte magnético ficou a não mais que 390 quilômetros do Polo Norte geográfico, e cruzou o Meridiano de Greenwich. Compiladores também confirmaram que o campo magnético da Terra continua enfraquecendo, a uma taxa de cerca de 5% a cada 100 anos.
O Modelo Magnético Mundial é utilizado por tudo, desde aplicativos de bússola, celulares, mapas e serviços GPS, até sistemas de transmissão de telecomunicações e ferramentas de navegação para várias agências, incluindo a Administração Federal de Aviação dos EUA, a NASA, o Departamento de Defesa dos EUA e a OTAN.
Cientistas ainda não sabem razão do fenômeno
O norte magnético, o ponto na superfície do planeta para o qual aponta sua bússola convencional, é criado pela agitação do metal fundido no núcleo da Terra, que cria enormes correntes elétricas para produzir o campo magnético.
Comentando sobre os dados recém-lançados do polo norte magnético, o geofísico Ciaran Beggan, que é também especialista em geomagnética do escritório de Edimburgo do BGS, disse ao jornal Financial Times que, embora o movimento do polo tenha sido "muito mais rápido" desde os anos 90 "do que em qualquer outro momento nos últimos quatro séculos, pelo menos", os cientistas, "na realidade, não sabem muito sobre que mudanças no núcleo estão originando-o".
© NASA . CENTRO DE VOOS ESPACIAIS GODDARD DA NASA
Enorme campo magnético ao redor da Terra
Com o polo passando pelo Meridiano de Greenwich e continuando sua corrida para o leste, a humanidade está entrando no desconhecido, cientificamente falando. Desde o século XVI, quando começaram os registros de tempo da posição do polo norte magnético, o polo havia se deslocado em torno do Ártico canadense.
O geofísico Phil Livermore, do Instituto de Geofísica da Universidade de Leeds, propôs recentemente que uma corrente de jato de ferro líquido fluindo no núcleo do planeta pudesse ajudar a explicar as mudanças na posição do norte magnético, mas sugeriu que rastrear os fluxos desse ferro líquido poderia ser difícil, "porque ele fica abaixo de 3.000 quilômetros de rocha".
Consequências do comportamento incomum
Os cientistas expressaram anteriormente preocupações sobre as flutuações no polo norte magnético e seu possível impacto no campo magnético que protege a Terra. Sem o campo, a Terra ficaria vulnerável a explosões solares, que poderiam causar danos a tudo, desde naves espaciais até redes de energia. Mesmo com o campo magnético intacto, o planeta permanece vulnerável.
Em 2011, a Academia Nacional de Ciências dos EUA calculou que a repetição de uma tempestade solar como a que atingiu o planeta em 1859 poderia causar até 2 trilhões de dólares em danos iniciais, e levaria uma década para ser reparada.
Além disso, um campo magnético enfraquecido pode levar a um processo potencialmente cataclísmico que os cientistas chamam de "reversão geomagnética", no qual os Polos Norte e Sul da Terra efetivamente mudam de lugar. Estima-se que a última inversão tenha ocorrido há cerca de 800 mil anos, e alguns cientistas acreditam que outra pode ocorrer em breve, mesmo que tal evento possa levar séculos para ser concluído.