A história de saber amar os outros, de cuidar de quem está perto, de saber que a recíproca é verdadeira, de curtir quem está vivo (enquanto está), de ter a exata noção de que ninguém é para sempre, de fazer bem a quem nos faz bem, enfim, todas essas obviedades... essa história só é óbvia lá entre nossos baús de conceitos. Na vida diária, no bate-estaca do cotidiano, o que fazemos é viver espirrando estilhaços nos outros e, principalmente, em quem está mais perto, mais abraçado, no convívio.
"É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". É assim que começa uma canção da Legião Urbana que parou na minha cabeça. Ela sempre me vem, embora nem sempre transforme meus atos. E eu gostaria que essa e outras canções tivessem o poder de transformar meus comportamentos (e os de outras pessoas) com a mesma facilidade com que as canto.
O
que quer dizer "amar as pessoas como se não houvesse amanhã"? Quer
dizer sugar delas a melhor seiva que há, para então não se arrepender de
tê-las perdido no coração; ou para não se lamentar olhando fotos que o
computador perderá um dia; ou para não cansá-las com uma chuva de
infelicidades diárias. Assim, nada vinga, de fato.
E eu acho improvável amar as pessoas. Não havendo amanhã, restará um hoje do qual somos incapazes de nos aperceber. É quando ele se converte em lembrança que a gente exclama: era isso! Mas não deu tempo de ser direito. Muitos já se arrependeram assim com a morte de alguém e talvez ainda colecionem desses arrependimentos.
Estou falando ainda de amar as pessoas amáveis, aquelas mais próximas, como pais, irmãos, filhos. Essas são as pessoas a quem provavelmente nos ligamos mais, numa espécie de aprendizagem que vem com gosto, cheiro, sol e chuva. Mas e quando o amor se refere às pessoas que nos surgem pela vida afora?
Você faz algumas tentativas ao longo da vida; começa ali pela adolescência, talvez a infância, e chega à vida adulta com um breve (ou não) catálogo de incompetências amorosas. Talvez conte algumas histórias de sucesso e talvez alguma delas seja duradoura. E suponhamos que você tenha, também, alguma ocorrência de casamentos, ou um ou dois ou três, que hoje em dia eles podem ser múltiplos. E suponhamos, então, que você, que nunca pensou nisso, encontre um novo amor quando estiver perto dos quarenta anos e que esse amor tenha filhos. É, ainda mais, preciso amar as pessoas.
Ao meditar sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, uma pessoa adulta já tendo passado por todas as turbulências da juventude, testes, agravos, desagravos, ilusões, paixões e atitudes, quase sempre imbecis, chega a muitas conclusões. Noves fora, você vai viver sua vida com o frescor que conseguir, mas terá um manual de sobrevivência bem mais completo e restritivo do que poderia antes. E então você não namora mais uma pessoa; você namora uma família, que, por sua vez, namora a sua família. Então você precisa saber como amar tantas pessoas que não faziam parte daquele desenho de árvore genealógica que você aprendeu na escola (e continua aprendendo). Ah, como aquilo é precário! Na era digital, na plenitude do link e das redes, as aulas de Biologia ainda insistem em desenhos lineares e unidimensionais.
E eu acho improvável amar as pessoas. Não havendo amanhã, restará um hoje do qual somos incapazes de nos aperceber. É quando ele se converte em lembrança que a gente exclama: era isso! Mas não deu tempo de ser direito. Muitos já se arrependeram assim com a morte de alguém e talvez ainda colecionem desses arrependimentos.
Estou falando ainda de amar as pessoas amáveis, aquelas mais próximas, como pais, irmãos, filhos. Essas são as pessoas a quem provavelmente nos ligamos mais, numa espécie de aprendizagem que vem com gosto, cheiro, sol e chuva. Mas e quando o amor se refere às pessoas que nos surgem pela vida afora?
Você faz algumas tentativas ao longo da vida; começa ali pela adolescência, talvez a infância, e chega à vida adulta com um breve (ou não) catálogo de incompetências amorosas. Talvez conte algumas histórias de sucesso e talvez alguma delas seja duradoura. E suponhamos que você tenha, também, alguma ocorrência de casamentos, ou um ou dois ou três, que hoje em dia eles podem ser múltiplos. E suponhamos, então, que você, que nunca pensou nisso, encontre um novo amor quando estiver perto dos quarenta anos e que esse amor tenha filhos. É, ainda mais, preciso amar as pessoas.
Ao meditar sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, uma pessoa adulta já tendo passado por todas as turbulências da juventude, testes, agravos, desagravos, ilusões, paixões e atitudes, quase sempre imbecis, chega a muitas conclusões. Noves fora, você vai viver sua vida com o frescor que conseguir, mas terá um manual de sobrevivência bem mais completo e restritivo do que poderia antes. E então você não namora mais uma pessoa; você namora uma família, que, por sua vez, namora a sua família. Então você precisa saber como amar tantas pessoas que não faziam parte daquele desenho de árvore genealógica que você aprendeu na escola (e continua aprendendo). Ah, como aquilo é precário! Na era digital, na plenitude do link e das redes, as aulas de Biologia ainda insistem em desenhos lineares e unidimensionais.