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domingo, 3 de julho de 2016

Pesquisas religiosas: Livro “Candomblé e umbanda no Sertão: cartografia social dos terreiros de Petrolina e Juazeiro”


Umbanda e Candomblé conquistam jovens descolados no Brasil- Jornal Awùre
Umbanda e Candomblé conquistam jovens descolados no Brasil- Jornal Awùre

O livro fala sobre a vida de diferentes babalorixás e yalorixás da região do Vale do São Francisco, pode ser encontrado na internet e está disponível para download. 


O livro “Candomblé e umbanda no Sertão: cartografia social dos terreiros de Petrolina/PE e Juazeiro/BA“, está disponível na internet, para download. A Obra narra a vida de diferentes babalorixás e yalorixás da região, e foi lançada no dia 08 deste mês, data em que se reverencia Oxum, orixá das águas doces, e que foi instituída como o Dia Municipal dos Povos de Terreiro, nas duas cidades ribeirinhas. Em Petrolina e Juazeiro, segundo um mapeamento da Associação Espírita e de Culto Afro Brasileira, há mais de 400 terreiros de candomblé e umbanda. Desse número, mais de 30 foram cartografados pelo livro, que é o resultado de dois anos de pesquisa realizada pelo professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Dr. Juracy Marques, pelo médico Joaquim Novaes e por outros pesquisadores. Para Marques, que vem desenvolvendo esse tipo de pesquisa, no Semiárido, há quase uma década, os terreiros são testemunhos da diáspora africana vivida por negros que foram trazidos para o Brasil. “São religiões afro-brasileiras. Ficamos surpresos com a quantidade de casas, terreiros e centros que cultuam suas ancestralidades, quer sejam orixás, pretos velhos ou mesmo entidades ligadas à matriz indígena, além de outros encantos”, revela. Ainda de acordo com o professor, ao longo da pesquisa, foram presenciadas diversas práticas de racismo, discriminação e intolerância religiosa, nos dois municípios. “Espero que o livro contribua para que as pessoas possam conhecer melhor essas religiões, por conseguinte, atuando para o fim da intolerância e de diversas outras formas de preconceitos relacionados à identidade negra”, finaliza.


Estrelas: Um nascimento espetacular! - As estrelas, quando estão se formando, sempre deixam um sinal

As estrelas, quando estão se formando, sempre deixam um sinal
As estrelas, quando estão se formando, sempre deixam um sinal
O espetáculo do Cosmos - a luz

As estrelas, quando estão se formando, sempre deixam um sinal. Algumas gostam de dar espetáculo, outras são mais discretas e acabam só compondo um belo retrato. No geral, isso não é exagero de quem estuda formação de estrelas, que nem eu, basta dar uma olhada nos locais propícios para estrelas se formarem.

As estrelas se formam em grandes nuvens de gás e poeira frias na galáxia. Com grande quantidade de hidrogênio, monóxido de carbono e outras substâncias químicas, elas são convenientemente chamadas de nuvens moleculares gigantes. Quando há alguma perturbação externa, como uma onda de choque originária de uma explosão de supernova, a nuvem se desestabiliza. Então ocorre sua fragmentação e posterior colapso, quando novas estrelas são criadas. Conforme o colapso progride, a protoestrela acumula matéria, encolhe por causa da força da gravidade e a temperatura do gás aumenta. Isso já a torna uma fonte de radiação infravermelha e telescópios operando nessa faixa podem detectá-las. Com matéria suficiente, o colapso faz com que a temperatura atinja algumas dezenas de milhões de graus e a estrela começa a realizar fusão de átomos de hidrogênio produzindo átomos de hélio e muita energia. Quando realizam fusão nuclear, as estrelas iluminam a nuvem em que estão mergulhadas, dando origem às nebulosas de formação de estrelas, o belo cenário que eu falei ali em cima.

Mas no geral as estrelas gostam de dar show nessa fase da vida. Várias delas emitem jatos, promovem um “transbordamento” de matéria, esculpem as paredes de gás e finalmente dissipam sua nuvem progenitora. Uma dessas estrelas espetaculosas foi flagrada pelo Hubble semana passada.

Trata-se da protoestrela IRAS 14568-6304, que está a 2500 anos-luz de distância, na direção da constelação de Circinus, o compasso. Esse nome pouco simpático indica que essa estrela foi descoberta pelo satélite para o infravermelho IRAS e a sequência de números não representa o RG da estrela, mas sim seu endereço, na verdade suas coordenadas no céu.

Na foto dá para ver manchas escuras, onde parece que não tem estrelas. Essas manchas são a nuvem molecular gigante, onde as estrelas podem se formar, que acaba bloqueando a luz das estrelas mais distantes. As melhores estimativas para essa nuvem gigante dizem que ela tem massa total equivalente a 250 mil vezes a massa do nosso Sol! Isso somando tudo, gás, poeira e as estrelas que já nasceram e estão dentro dela. A recém-nascida IRAS 14568 está em um pedaço dessa nuvem que teria potencial para formar 5 mil sóis, mas como a eficiência na formação de estrelas é muito baixa apenas por volta de mil estrelas, no máximo, devem se formar.

IRAS 14568 está a ponto de romper seu casulo de gás e poeira, que ilumina por dentro e parece criar esse véu meio fantasmagórico. Tudo indica que essa estrela seja da classe das estrelas massivas, ou seja, que ela já tenha agregado pelo menos o equivalente a dez massas do nosso Sol e dentro de uns 500 mil anos, se tanto, ela termina de dissipar o que resta do gás que a formou.

Fonte: g1.globo.com/blog/observatorio/

A detecção de ondas gravitacionais

Ondas Gravitacionais de Interferometria Laser
A detecção de ondas gravitacionais

Mais ondas


Nesta última quarta feira (15/06) o grupo do Observatório de Ondas Gravitacionais de Interferometria Laser (ou só LIGO) anunciou mais uma detecção de ondas gravitacionais! A detecção se deu no dia 26 de dezembro do ano passado e, por causa da data, foi apelidado de evento do ‘boxing day’, um feriado tradicional no Reino Unido que cai depois do Natal.

A primeira detecção de ondas gravitacionais se deu no dia 14 de setembro de 2015  com a colisão entre dois buracos negros parrudos, um de 36 e outro com 29 vezes a massa do Sol. O produto final da colisão foi outro buraco negro, mas com massa total de 62 vezes a massa do Sol, as 3 massas faltantes foram integralmente convertidas em ondas gravitacionais numa fração de segundos!

Dessa vez a colisão foi um pouco mais modesta. No dia 26 de dezembro, os detectores do LIGO registraram, quase ao mesmo tempo, o sinal característico da colisão de dois buracos negros, um com 14 e outro com 8 massas solares. Na colisão, algo como a massa de um Sol inteiro foi convertida em ondas gravitacionais. Com menos massa, o sinal chegou mais fraco, mas por isso mesmo fez com que as frequências detectadas fossem mais altas do que o as do primeiro evento. No final das contas, o efeito disso tudo foi o de fazer com que os dois observatórios do LIGO detectasse as 27 órbitas finais dos dois objetos até o colapso, totalizando quase um segundo de observações. Pouco? É sim, mas no caso anterior foi apenas um décimo disso!

Como os eventos chegaram quase ao mesmo tempo nos dois observatórios, a diferença foi de 1 milissegundo, a fonte deveria estar equidistante dos dois e isso dá duas possibilidades, ou bem acima dos detectores, ou bem abaixo, do outro lado da Terra. E não dá para ser mais preciso que isso. Com o uso de outras técnicas foi possível determinar que a colisão aconteceu a 1,4 bilhões de anos luz, praticamente a mesma distância da colisão anterior.

A repetição da detecção era muito aguardada pelos astrofísicos. Apesar de tudo estar bem explicado e ter acontecido exatamente como a Teoria da Relatividade havia previsto há cem anos trás, em ciência uma detecção só não faz verão. E esse evento do ‘boxing day’ veio não só tirar todas as dúvidas a respeito da primeira detecção, como também deu crédito a um terceiro evento. É que em 12 de outubro de 2015, ou seja antes do evento do ‘boxing day’, o LIGO detectou um sinal bem fraco que não permitiu uma conclusão robusta. Mas ele é coerente com a colisão entre dois buracos negros de 13 e 23 massas solares e, apesar de ter sido um sinal fraco, certamente não era ruído.

Mas, na minha opinião, o mais importante nesse segundo evento detectado não foi nem a repetitibilidade do evento, mas sim o fato de que as ondas recebidas traziam a informação de que um dos buracos negros estava girando! Sim! Um deles tinha um movimento de rotação! Quando um buraco negro colapsa, ele conserva 3 grandezas físicas: a massa, a carga elétrica e o momento angular. O momento angular é a grandeza que define a rotação de um corpo e se a estrela tinha rotação ao se colapsar, ou o buraco negro tragou uma estrela que girava (o que deve ser maioria no universo) ele vai girar também. Esse tipo de buraco negro é chamado de buraco negro de Kerr, que foi o físico que primeiro deduziu as equações da Relatividade para esse caso específico.

Muito mais do que confirmar uma teoria de 100 anos, as ondas gravitacionais criaram uma nova ciência, a astrofísica de ondas gravitacionais. Com ela, será possível estudar objetos exóticos como estrelas de nêutrons e buracos negros que não emitem luz. Aliás, o segundo período de observações científicas do LIGO está previsto para começar em outubro deste ano, após um upgrade de seus equipamentos. Com essa atualização, o LIGO deve ser capaz não só de detectar mais eventos de colisão entre buracos negros, mas também detectar colisões de estrelas de nêutrons! Com isso, vamos começar a desvendar detalhes desses bichos exóticos, como por exemplo a sua estrutura interna. Não há mais como negar, as ondas gravitacionais existem de fato e o LIGO, que tem uma forte participação brasileira, está mudando a astronomia e a física!

Imagem: LIGO/A. Simonnet.
Fonte: g1.globo.com/blog/observatorio/ 

A importância vital da água e do interesse astronômico


A importância vital da água e do interesse astronômico
A importância vital da água e do interesse astronômico

 A semana da água

Apesar da importância vital da água e do interesse astronômico pela sua existência universal, a semana da água a que me refiro não é aquela atrelada ao dia mundial da água, celebrado todo dia 22 de março. Esta semana foi marcada pelo anúncio quase simultâneo, por duas equipes independentes, da existência de oceanos em Encélado e Plutão. Em ambos os casos, são resultados de simulações em computador que, juntando os dados das sondas Cassini e New Horizons respectivamente, apontam a presença de água líquida nos dias de hoje, e não em um passado remoto em ambos os corpos celestes! É assim.

Plutão
As imagens enviadas pela sonda New Horizons, que passou por Plutão no meio do ano passado, revelaram uma superfície com poucas crateras de impacto. Na verdade, com nenhuma grande cratera, apenas umas poucas e pequenas salpicadas em algumas planícies congeladas. A falta de crateras significa que o terreno é recente. Para o terreno ser recente, precisa haver atividade tectônica ativa. Aliás, a superfície de Plutão é coberta por gelo, com montanhas de gelo, mas também montanhas rochosas, cobertas por? Gelo.

Além dessas características, as imagens mostram também algumas fissuras no gelo, como cânions. Estruturas como essas fissuras são originárias de movimentos de placas tectônicas tão comuns aqui na Terra. Mas como explicar atividade tectônica em um mundinho de 1.200 km de raio? Por ser tão pequeno, o esperado é que o planeta como um todo já se resfriou e não possui oceanos de magma como a Terra para que haja movimentos de placas e vulcanismo. Como, então, poderia haver movimentação de placas superficiais?

Água
Se toda a água que existe em Plutão tivesse se congelado, haveria a formação de um tipo de gelo chamado gelo II. Esse é o estado que a água assume quando é congelado a baixas temperaturas e altas pressões, as condições em Plutão. E a chave para a resposta é a ausência do gelo tipo II (o gelo comum é tipo I, menos denso). Caso ele tivesse se formado, como seria o esperado, as fissuras presentes na superfície de Plutão seriam por compressão das placas superficiais. Ao invés disso, as fissuras se formaram pelo movimento de escorregamento ou afastamento de uma placa da outra, como efeito de estarem boiando sobre um oceano. E isto estaria acontecendo hoje ainda!

Agora a grande questão ainda não respondida é: como a água não se congelou em Plutão? É preciso haver uma fonte geotérmica ativa ainda e o principal suspeito é o decaimento radioativo de elementos instáveis no núcleo rochoso. Mas isso ainda está longe de ser respondido. EncéladoEm Encélado a coisa é diferente. O oceano em si já é conhecido há alguns anos por causa dos gêiseres ativos no seu polo sul, mas uma questão em debate é se esse oceano tem uma escala global, ou se é apenas um reservatório localizado. Manter a água em estado líquido não é um problema, como em Plutão. As intensas forças gravitacionais de Saturno proveem as forças de maré suficientes para gerar calor e derreter o gelo de Encélado.

As observações precisas dos movimentos de Encélado mostrou que ele tem um movimento de oscilação em sua rotação (chamado de libração), que não só confirmou a extensão global do oceano, mas também ajudou a determinar a estrutura dessa enigmática lua de Saturno. De acordo com os melhores modelos teóricos aplicados aos dados, Encélado teria um núcleo rochoso de 185 km de raio, coberto por um oceano salgado de 45 km de espessura, coberto por uma capa de gelo de espessura média de 20 km. No polo sul a capa seria bem mais fina, tipo uns 5 km no máximo, o que facilitaria o escape dos gêiseres. Com uma camada mais fina, futuras missões poderiam estudar a estrutura interna desses gêiseres através de radar.

Os resultados são muito interessantes, poder descrever a estrutura interna de uma lua a partir dos movimentos de oscilação registrados à distância usando física básica e simulações de computador é fantástico! Só que encontrar uma camada de gelo mais fina põe outro desafio. O modelo de forças de maré proveem bastante energia para manter o gelo derretido em Encélado, mas a capa mais fina significa também menos proteção para o calor gerado. Até o começo dessa semana, a capa de gelo tinha 40 km de espessura, o que mantinha o isolamento térmico desse oceano, mas com 20 km, na média, muito calor deve se perder no espaço. Conclusão: deve haver mais uma forma de geração de calor ativa em Encélado que compense a perda através do gelo mais fino e mais uma vez o decaimento radioativo deve ser esse mecanismo. Água em Encélado e Plutão. Como eu disse lá no começo, sua presença é universal e, se ela é imprescindível para a existência de vida, não há como evitar de pensar que ela possa estar espalhada pelo universo também.

Imagem: NASA/JHU-APL/SwRI
Fonte: g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/observatorio/
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