Quando eu me iniciei na Umbanda, eu me senti feliz e bem adaptado, pois era o estilo esotérico que tornou fácil minha adaptação. Não era um templo ligado a OICD, mas, que professava os ensinamentos de Da Matta. Tinham lá até mesmo diversas revistas da Ordem do Cruzeiro Divino. Na época, achei fantástica a sacada do Mestre Matta e do Rivas Neto, mas, a Umbanda, como tudo no Brasil, nunca conseguem a união que faria essa vertente se fortificar e crescer. Mas, desde o princípio, já captei de cara, erros e excessos dessa ordem, da mesma forma que também, percebi seus pontos positivos.
A Umbanda Popular, cada vez mais exprimida pelo Kardecismo, perseguida pelo protestantismo e muita confusão gerada pela ganância, dentro e fora da umbanda, como também pelas bagunças da Tradição Oral. E o tempo se passou e já fazem 17 anos, de estudo e observando de longe o movimento umbandistico, repleto de sensacionalismo, mentiras e mudanças de conceitos. Até chegar ao que somos hoje. Uma Umbanda de fantasia, ficção, bagunçada, com poucos guerreiros ainda lutando por sua sobrevivência, mas, também sendo vitima da confusão que acabam chegando a todos.
Bem, mas, o que foi feito da Umbanda Esotérica? Ela tá espalhada pelo Brasil, mas, não existe mais como deveria ser o projeto de Pai Matta. Muitos acham ruim quando eu falo isso, mas, é minha opinião. Eu sempre me neguei a falar sobre o assunto, mas, recebo emails diariamente de leitores que me pedem opinião e não posso fugir do tema, em respeito a eles e a Umbanda. Na verdade, sempre admirei Pai W.W. Matta e Silva, não por achar que ele fosse um "super Babalwô", que estivesse acima dos outros ou que fosse um médium de guias mais poderosos que os outros. Eu na verdade o admiro como pesquisador que é o que ele e o Rivas Neto é na verdade. Sem essa de "super pai de santo", médico de cura, super hierofante ou herdeiro disso ou daquilo. Na verdade o que eles são mesmo é pesquisadores.
Não venham com essa de Caboclo esse ou aquele revelou o "segredo da pedra filosofal", pois com todo respeito, não cola. Na verdade, todo trabalho de Da Matta, apesar de seus discípulos se ofenderem em ouvir isso, é mesmo trabalho de pesquisa. A iniciação e experiência, serviu para que eles tivessem forças, pra enfrentar as adversidades e tudo mais, mas, todas as regras, revelações trazidas, foram fruto de pesquisa, de livros sim e de influências de diversas culturas, desde a Doutrina Secreta a Encataria, mas, o que houve foi um filtro e mesclagem pra desenvolver uma teoria.
E foi fantástico! Apesar dos erros e excessos, a OIDC, captou a parte mais esotérica que a Umbanda Popular não tem. Certo dia vi alguém que é contra a Umbanda Esotérica dizendo que "falar que a Umbanda é esotérica, é a mesma coisa que falar que a agua molha...". Mas, não é assim não. Na verdade, grande parte da Umbanda não foca no lado esotérico dos cultos afro-brasileiros. O esoterismo não é só praticar ritos, mas, estudar os ritos, se aprofundar na parte magística, não por simples intuição e tradição oral, mas, por conhecimento ancestral codificado.
O Rivas Neto, deu grande contribuição a Umbanda, pois como ele mesmo diz "não há mestre de mãos vazias", mas, há mestres que enchem e esvaziam as mãos, trocam de bagagem, de roupagem e de percurso. Na obra "Exu o Grande Arcano", já com muita edições, assim como "A Proto-Síntese Cósmica", foram grande contribuição ao movimento umbandista. Não é a toa que já está com suas 14 edições e deve durar mais ainda. No entanto, sabemos bem que assim como nessas obras, como nas de Mestre Matta e Silva, grande parte, Rivas Neto, não segue mais, não acredita e ainda tenta justificar hoje em dia como algo que ficou no passado.
Eu não me surpreendo como o novo caminho de Rivas Neto, acho sim que nada é em definitivo e um mestre ou buscador, está no caminho para se transformar e se adaptar. Na verdade, todo aquele que buscar o esoterismo da Umbanda vai chegar na sua parte africana, no Ifá e em toda mística, mística e mitologia iorubá, pois é inevitável. Mas, a parte esotérica da Umbanda ou do Candomblé, não está apenas no Iorubá. Porém eu até acho hoje o Rivas Neto um pesquisador ainda mais completo. Isso mesmo pesquisador. Pois não sou seu discípulo e não desfaço de suas iniciações, mas, não acho que haja sacerdotes no grau em que ele se diz está em nosso país.
Na verdade o que temos são pessoas de alto poder aquisitivo, que abrem inúmeros templos, compram muitas relíquias, fazem templos bem paramentado e tem muita grana pra esbanjar poder, seja no âmbito da Umbanda Esotérica, seja na Popular ou no Candomblé. E as pessoas, assim como no movimento evangélico, quanto no meio da religião afro-brasileira, astrologia ou qualquer meio místico, se influem muito com o ambiente, com o poder. Assim, se conseguem mais facilmente seguidores. Mas, esses mestres tem um grande erro, que é o de se fechar nos círculos apenas daquelas pessoas que querem apenas escutar, seguir e jamais questionar.
Vi certo dia, num de seus vídeos, Rivas Neto afirmar que 'não se questiona um mestre'. Pelo contrário. Um mestre só é mestre mesmo se não se fechar numa redoma. Ele não pode falar apenas aquilo que quer, que tá programado, numa faculdade de Umbanda, como se tivesse formando apenas seguidores. O mestre fala daquilo que o aluno quer ouvir e o aluno só aprende se for questionador. Além disso, não existe isso de que o mestre está sempre certo. Jamais! Prova disso é que ele fala hoje num tom e cores, completamente diferente de quanto lançou seus livros de Umbanda Esotérica. Aliás, acho um deserviço ficar relançando a "Umbanda a Proto-Síntese Cósmica", sem uma explicação. Tanto porque está induzido os leitores a coisas que o próprio autor sequer acredita mais, como confunde as pessoas.
O Ifá é o caminho mais importante dos cultos africanistas no que se refere a comologia, mas, ele além de não ser acessível no Brasil, foi esquecido por séculos e mau usado nas ultimas décadas. E na verdade não temos nenhum bom Babalao que conheça o Ifá em sua plenitude no Brasil. E por isso acho que o tema assim como a Umbanda deveria ser mais e mais pesquisada e codificada sim.
Essa história de que temos teologia de Umbanda, não passa de balela, pois não se faz teologia baseada em Tradição Oral. Se a tradição oral é importante, ela não pode ser considerada fonte confiavel. Aliás, ela é responsável por grande parte das deturpações. Porque acha que o cristianismo resiste ao tempo? Ou o Islamismo e o Kardescismo? Por causa da Bíblia é que o cristianismo sobrevive. Assim como o Alcorão é o livro que mantém o Islã de pé. E o Evangelho dos Espiritos é que deu forças para o Kardecismo sobreviver e até sufocar a Umbanda em nosso país.
E o que seria dos cultos afro-brasileiros se não fossem os mitos, os orikís, os códigos de Ifá e o que sabemos sobre cada orixá? Nem existiriam mais. E por isso acho um desperdicio uma faculdade de Umbanda, onde apenas se debruça em todo tipo de opinião, sem uma filtragem pra que um trabalho esclarecedor surja. Certo dia vi alguém dizer "é nas diferenças que vocês aprendem". Sim se souber filtrar. Pois se pegar tudo como certo, vai ficar é maluco.
Não é dizer-se certo, como Da Matta fez no primeiro momento, mas, pegar o que há de encaixe em cada vertente e formular códigos de Umbanda e só assim ela será fortalecida. Eu vi num vídeo o Rivas Neto, que antes se dizia Yamunishiddha e não é mais, dizer que, "pra debater coisas que ficaram pra trás, o melhor era esquecê-lo". Bem, esse não é o papel de alguém que tem livros sendo vendidos nas livrarias, uma edição atrás a outra, sem dar a menor explicação. Apenas montando um circulo de pessoas vips pra estudar novos conceitos sem se dar conta que tem coisas do passado a serem esclarecidas.
Da Matta citava sucintamente sim os cultos afrobrasileiros, com seu caráter bem africano, mas, seu intuito não era o que vemos hoje na OICD não. Na verdade, pra quem se diz sucessor, seguir um caminho totalmente diferente, ou é uma renuncia ou simplesmente ignorar o que seu mestre queria dizer. Da Matta falou em ifá, em magia africana, encantaria e jurema, mas, fica claro em seus trabalhos que ele conhecia apenas de forma suscinta e seu caminho principal era sim a Umbanda, a que ele tentava seguir de Zélio de Moraes. Ele não era um africanista como Pierre Verger, jamais...
Ele até atacava coisas como Zé Pilintra, Maria Padilha e outras coisas que hoje vemos forte na Umbanda e que inclusive Rivas Neto defende. E acho até que a mudança de Rivas Neto, foi sim pra melhor, ele continua contribuindo para a Umbanda, mas, ainda tem dívidas a serem sanadas, coisas a serem explicadas e precisaria investir numa teologia mais aprofundada, menos teórica e menos vip. Além de abrir mais o leque das pesquisas, visando buscar os códigos de Umbanda. Sem essa de abraçar tudo, não existe isso. Sem codificar a Umbanda e ficar nessa de tradição oral, a Umbanda será extinta e não vai demorar muito...
Eu ainda considero a OICD um dos maiores avanços da Umbanda no Brasil, que ao contrário de alguns autores, que ficam escrevendo sobre uma Umbanda que não existe. E que é muito mais kardecista que culto afrobrasileiro, tem todo potencial de expandir conhecimentos. Mas, parou no tempo, por conveniência ou qualquer outro motivo, mas, tá desperdiçando o potencial que tem. Assim como o Vaticano, que ao invés de tá defendendo dogmas e teologias ultrapassadas, poderia usar o poder que tem para estudar de verdade.
O que vemos hoje é uma Umbanda de faz de conta, onde se escreve muito "psicografado" e não trás novidade nenhuma. Essa história de alienígenas na Umbanda, chips na cabeça de médiuns e filosofismos, nada contribuem para a verdadeira Umbanda. Eu ainda acho Matta e Silva, assim como Rivas Neto, os maiores pesquisadores da Umbanda dos últimos tempos, mas, com muitas coisas a serem lapidadas, explicadas e aprofundadas. E espero que ninguém tomem minhas criticas e observações como destrutivas, mas, apenas como vontade de uma Umbanda de verdade, estudada e codificada como tem que ser.
Carlinhos Lima - Astrólogo, Tarólogo e Pesquisador