Conhecida
como terapia de plasma convalescente, o tratamento remonta ao final do
século XIX, e os médicos de hoje creem que pode ser a solução provisória
que necessitamos para conter o vírus enquanto são desenvolvidos
tratamentos e vacinas mais complexos.
O portal New Atlas, em um artigo
publicado em 29 de março, fez o balanço do problema e explicou como o método pode ajudar a combater a pandemia.
Método pioneiro
Na década de 1890, o cientista alemão Emil Behring foi pioneiro na
implementação de um novo tratamento para a difteria. Behring, juntamente
com o médico japonês Kitasato Shibasaburo, descobriu que o soro
sanguíneo de animais infectados com certas toxinas
poderia ser usado em humanos para tratamento de várias doenças.
Behring descreveu na época essas moléculas protetoras como
"antitoxinas" e passou o resto da década otimizando o processo, acabando
por descobrir que os cavalos eram o animal mais eficiente para produzir
grandes volumes de soro de antitoxinas.
Em 1901 Behring ganhou o primeiro Prêmio Nobel da Medicina por seu trabalho sobre essas terapias com soro para difteria.
Ao longo das primeiras décadas do século XX, o tratamento ficou
conhecido como terapia plasmática convalescente, sendo frequentemente
utilizado em tempos de surto de doenças infecciosas.
Os produtos sanguíneos de pacientes recuperados eram
tratamento comum para tudo, desde sarampo e papeira até poliomielite, tendo sido amplamente utilizados durante a pandemia de gripe espanhola em 1918.
Um estudo de 2006 mostrou que essa terapia reduziu significativamente
as taxas de mortalidade, de 37% entre os não tratados para 16% entre os
pacientes tratados com plasma convalescente. A descoberta de
antibióticos e o desenvolvimento de vacinas tornariam este método
obsoleto.
Funcionou então, pode funcionar agora
No início dos anos 2000, um novo coronavírus respiratório apareceu na
China. Perante um vírus inteiramente novo, com uma elevada taxa de
mortalidade e sem opções de tratamento, médicos em Hong Kong conduziram
um estudo de plasma convalescente improvisado,
inspirado em estudos de casos similares recentes fora de África, e que tinham demonstrado potencial eficácia no tratamento do vírus ebola.
A taxa de mortalidade total entre os
pacientes tratados foi de 12,5 por cento e a geral em Hong Kong de 17
por cento. A ilação mais importante foi que os mais precocemente
tratados apresentaram melhores índices do que aqueles que receberam o
tratamento mais tarde.
Um estudo mais recente sobre os efeitos da terapia plasmática
convalescente, que incorpora relatórios clínicos desde a gripe espanhola
até a SARS, detectou uma impressionante redução de 75% na mortalidade
geral entre os doentes tratados com essa terapia.
Medida provisória
O imunologista Arturo Casadevall reacendeu a ideia do plasma
convalescente, após relatos de que o tratamento estava sendo testado na
China. Casadevall não só
propôs a terapia centenária
como um tratamento precoce potencialmente útil em pacientes
recentemente diagnosticados com o vírus, mas também como profilaxia útil
para os profissionais de saúde e para membros de famílias que cuidam de
pacientes com COVID-19 em casa.
Casadevall e sua equipe da Universidade Johns Hopkins, nos EUA,
rapidamente começaram a investigação, tendo a FDA respondido prontamente
alguns dias depois, não só acelerando as aprovações de ensaios clínicos
de plasma convalescente, como também permitindo disposições imediatas
de uso compassivo. Isto possibilita aos médicos ter a capacidade de
administrar o tratamento a pacientes fora das limitações de um ensaio
clínico, desde que certas condições sejam satisfeitas.
Ainda há muitas questões que precisam de ser respondidas antes que o tratamento possa ser amplamente implantado.
Quantos anticorpos precisam ser detectados no sangue dos pacientes
recuperados para que o tratamento sérico seja eficaz? Qual é a
quantidade de plasma convalescente que precisa ser administrada para
tratar a doença? Qual é o momento ideal para administrar o tratamento? O
tratamento oferece alguma imunidade confiável em pacientes que não
contraíram o vírus?
Os cientistas não esperam encontrar com isso a
cura para a COVID-19, mas somente algo que ajude a mitigar o fenômeno enquanto não houver tratamentos e vacinas.
Produzir e implantar tratamentos de
plasma convalescente requer apenas redes de bancos de sangue
pré-existentes. O atual sistema de coleta e fornecimento de sangue nos
Estados Unidos poderia ser rapidamente mobilizado para começar a coletar
doações de pacientes recuperados da COVID-19.
Quando Casadevall e seus colegas possam verificar a melhor prática
para o tratamento, o plasma convalescente poderia ser estendido a um
enorme volume de pacientes em meses, achatando a curva de transmissão e
ganhando mais tempo para os cientistas trabalharem em uma vacina eficaz.