As religiões afro-brasileiras estão baseadas na tradição oral. Para aproximarmos este conhecimento da academia, que tem a tradição escrita, é preciso entender que tudo “(...) começa na ideação (imanifesto) que se manifesta no pensamento (1ª instância), para a seguir se apresentar como verbalização (oralidade – 2ª) e, finalmente, a escrita (a 3ª)”.
Além disso, o conhecimento sobre o uso sagrado das plantas presentes nas religiões afro-brasileiras está ligado à própria formação dessas religiões, compostas das matrizes formadoras Indo-Européia, Africana e Ameríndia (19). Um campo de pesquisa etnobotânica ainda pouco explorado no Brasil é aquele que busca compreender a ligação das plantas e as culturas e etnias que já existiam no Brasil e as que chegaram em diferentes momentos históricos, procurando entender como as plantas eram e são utilizadas em termos sagrados, ritualísticos e religiosos dentro das religiões afro-brasileiras em sua mais ampla diversidade de tradições, tais como Umbanda, Jurema, Omolocô, Tambor de Mina, Terecô, Candomblé, Pajelança, Catimbó, Xambá, Babassuê, Toré, entre outras.
Nas religiões afro-brasileiras, inúmeras plantas são utilizadas para defumações, banhos, ornamentos, sacudimentos, preceitos, oferendas, etc., além da utilização como essências. Sua utilização está ligada à magia vegetomagnética porque as plantas, além dos aspectos já comentados, são consideradas sagradas e relacionadas aos Orixás.
O poder de proteger associado a uma determinada planta nem sempre assenta nas propriedades medicinais. Entre nós, a mal cheirosa arruda parece ter, sobretudo por via do mau cheiro, uma sólida reputação protectora da residência e dos seus habitantes, pelo seu poder de afugentar o mal na forma de bruxas ou bruxarias. As plantas utilizadas nos ritos, cerimônias e oferendas das religiões afro-brasileiras, que também podem ser chamadas de ervas, estão, como tudo na matéria, ligadas às vibrações dos Orixás. Assim, cada planta está associada a um determinado Orixá de maneira mais direta e às suas correlações vibracionais com os signos, os astros, os entrecruzamentos vibracionais e as entidades espirituais. Por essa razão, são sagradas, além de assimilarem e conterem o “prana”, a energia vital emanada pelo Sol e absorvida pelas plantas. Também, por não terem consciência, essa energia é mantida pura e inalterada.
Em outras tradições das religiões afro-brasileiras a arruda, é uma planta que corresponde à vibração do Orixá Oxalá com intermediação para o Orixá Yorimá, representada pelo Caboclo Tupy e relacionada ao Exu Sete Capas. Ligada a Exu, é usada em banhos e sacudimentos na Umbanda e nos Candomblés de Angola; porém, não é utilizada em terreiros jêje-nagôs baianos e cariocas.
Em pesquisa realizada em templos umbandistas de nove estados brasileiros e do Distrito Federal, a arruda foi apontada com a mais utilizada, uma vez que é muito utilizada e indicada pelas entidades pai-velho, caboclo, encantados e exus, tanto durante os ritos quanto em oferendas, defumações, etc. As plantas possibilitam o religare com as vibrações dos Orixás nas religiões afro-brasileiras, beneficiando os centros de força ou chakras e refletindo numa harmonia, estabilidade e equilíbrio maiores do que antes de utilização das plantas, seja pela visualização, oferenda, defumação, banho, alimento ou essência.
As plantas nas religiões afro-brasileiras são sagradas e seus estudos etnobotânicos possibilitam a ligação entre a religião e a ciência. Tem-se muito a pesquisar. As plantas tratadas neste artigo vieram de naturezas, continentes e tradições diferentes e continuam sagradas. Arruda da Europa, jurema da América, dracena da África e manjericão da Ásia representam as matrizes formadoras do povo brasileiro vindas da Europa, África, América e Ásia e as escolas umbandistas primevas indo-européia, africana e ameríndia. Procurar se religar com a natureza representada, minimamente por uma planta, é procurar receber as vibrações dos Orixás que delas emanam, mesmo sem saber disso. Em tempos de aquecimento global e sequestro de carbono, as plantas estão sendo mais valorizadas, mas a humanidade ainda está longe de entender sua plena importância em nossa vida planetária e para nossa evolução espiritual.
Na história da humanidade, há cerca de 12 mil anos atrás, no Período Neolítico, surgiu a agricultura, quando grupos de Homo sapiens passaram de coletores a cultivadores de plantas, principalmente por sua capacidade de acumular informações sobre o ambiente, pela observação constante e sistemática dos fenômenos e características da natureza e na experimentação empírica dos recursos naturais, entre eles, as plantas. E muito antes de surgir a agricultura tanto da forma que conhecemos hoje, quanto da forma mais primitiva, mediuns, magos e escolhidos, mesmo que ainda muito rudes, sabia da grande importancia das ervas para a manipulação da magia.
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