Chaiê Sara - é cheia de eventos e acontecimentos, mas, dentro dela, um versículo que chamou a atenção de muita gente ao longo da história foi: "Abrahão estava velho, entrado em dias, e D'us tinha abençoado Abrahão com tudo.”
Os cabalistas explicam que não, que envelhecer e ser "entrado em dias" são duas coisas muito diferentes. "Entrar em dias" significa viver a vida de modo completo e envolvente, fazendo com que cada dia seja uma experiência única e singular. Este é - grosso modo - o conceito cabalístico de Carpe Diem. Não no sentido de aproveitar o dia e derivar dele o maior prazer possível; mas no sentido de viver aquele dia intensamente, "entrando nele de cabeça".
A verdade é que muitos de nós temos medo de entrar em nossos dias e viver a vida plenamente, com total presença de espírito, com o corpo e alma, com paixão e entusiasmo totais. Não confiamos na vida o suficiente para deixar que ela nos possua. Por conta de coisas que vivemos no passado, ficamos com medo de experimentar a vida como fonte de sofrimentos, de muitos desapontamentos, de vergonha, de medo, de raiva, etc.
Quando esta visão de mundo se torna padrão em nós, preferimos deixar que os dias passem passivamente enquanto nos colocamos na mera função de marcar a passagem do tempo, como um prisioneiro numa cela, marcando na parede os dias que lhe faltam para a liberdade. Vivemos uma vida passiva e desinteressante, na qual só observamos nossos dias correndo, e somos "tímidos" demais para nos envolvermos com um só deles. Assim, o que podemos aprender daqui é que no mundo encontramos pessoas que vivem e envelhecem, mas que, no processo, não entram em seus dias; e outras que sim o fazem.
Isso explica, entre outras coisas, porque às vezes vemos gente jovem que aparenta ter muito mais conteúdo e "experiência de vida" do que uma pessoa mais idosa. Quantas vezes não nos deparamos com pessoas extremamente jovens mas com uma "vivência" incrível? Quase certamente, o que aconteceu é que esta pessoa jovem se permitiu entrar nos dias, algo que muitos idosos não se dão ao luxo.
Na verdade, muitas vezes observamos o contrário, que muitas pessoas, após anos levando a vida com todas suas pressões e prazeres, com todas suas agruras e maravilhas, desenvolvem uma certa indiferença às perdas e bênçãos de sua existência. Estas pessoas acham que passaram por coisas demais para se submeterem ao lado vulnerável da vida. Em vez de chegarem ao fim da vida como pessoas radiantes, elas perdem o brilho de viver; chegam apagadas.
O filósofo Sêneca, em uma de suas reflexões sobre a vida, disse que uma coisa muito lhe intrigava no ser humano. Quando uma pessoa perguntava para outra sua idade, a resposta era "tenho 30 anos", por exemplo. Sêneca diz, no entanto, que se formos pensar corretamente, justamente o que esta pessoa "não tem" são 30 anos. Este é o tempo de vida que já passou e que a pessoa jamais recuperará! O que ela de fato "tem" são os anos de vida que ainda lhe restam. Se ela for viver até os 70, por exemplo, os anos que ela de fato "tem" são 40.
A Cabalá nos ensina que as coisas não precisam ser assim. Não precisamos ser como algumas pessoas que "têm" 80, 90 anos de vida, mas, na verdade "não têm" sequer um ano de vida realmente vivida ou vivida intensamente. Cada vez que "entramos em nossos dias", mesmo os anos de vida que já não temos mais podem ser contabilizados como uma posse nossa, pois fazem parte integral do nosso ser e de quem nos tornamos. É exatamente como Abraham Lincoln mencionou certa vez: “No final das contas, não é a quantidade de anos em sua vida que importa, mas sim a quantidade de vida em seus anos." Que possamos todos ser "entrados em dias"! Y. A. Cabalista
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