O homossexualismo, aliás, é tema de uma das melhores histórias do livro. "Culpa católica (você sabe que adora isso)" é um bom exemplo da inteligência de Welsh como escritor. E de como um conto pode oferecer tantas possibilidades de leitura e ter tantas reviravoltas quanto um romance. Joe, o personagem do conto, é um beberrão homofóbico que na primeira cena da história espanca um gay na rua. Joe "queria obliterar as feições retorcidas da boneca boiola, mas só conseguiu encher a cara dele de pontapés", enquanto seu amigo Charlie chegava para controlá-lo. Os dois então vão comemorar a surra no gay em um pub em que a irmã gêmea de Charlie se encontra. Lucy (a irmã) e Joe acabam na cama e, neste momento, Joe tem uma espécie de colapso, em que a narrativa de Welsh, entre a piração e a realidade, joga com o leitor. Joe começa a ter alucinações que viram pesadelos. Envolto em uma maldição, ele se vê transando com alguns de seus melhores amigos. Angustiado para se livrar do pesadelo, a certa altura, Joe tem uma epifania e encontra o diabo.
Chamar um escritor de "perspicaz observador da alma humana" é o que de melhor se pode fazer a um autor, mas o elogio que se pode fazer a Welsh passa longe do etéreo, pois o escocês prefere olhar para as coisas terrenas, mais especificamente para a confusão em que o mundo se meteu depois da Revolução Industrial. Welsh cutuca fundo as feridas do capitalismo, mostrando, de forma sempre divertida, como o sistema fode com gente que até pouco tempo acalentava alguma esperança na vida e no ser humano. Mas não, Welsh não é o que se pode chamar de um autor engajado. Pelo contrário, talvez não haja um autor contemporâneo menos engajado que o doidão escocês. Welsh, de forma magistral, aponta sua machine gun em vários alvos: a igreja, os conservadores, os neo hippies, os modernos, os ricos, os drogados, os homossexuais.
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