As florestas tropicais do mundo agem como importantes "cápsulas do tempo" da atividade humana há centenas de anos, de acordo com uma equipe de pesquisadores.
No estudo publicado pelo portal Trends in Plant Science, os pesquisadores descreveram como a biologia das árvores tropicais, combinada com outros dados históricos e arqueológicos, pode revelar a história dos povos nativos nas regiões tropicais, assim como os impactos do colonialismo.
"As florestas tropicais são há muito tempo consideradas como zonas selvagens 'virgens', intocadas por humanos até a invasão recente das forças industriais", afirma Patrick Roberts, autor de estudos do Instituto Max Planck em Ciências da História Humana, em entrevista à Newsweek.
"No entanto, informações arqueológicas das últimas duas décadas demonstraram que as sociedades humanas ocuparam e modificaram estes ambientes ao longo do milênio. A forma como eles mudaram estas florestas e as implicações existentes para a conservação e identificação de estratégicas de coexistência sustentável permanecem hoje uma questão fundamental", diz Roberts.
"Queríamos ver e pesquisar como diferentes métodos existentes de estudo do crescimento e idade das árvores poderiam ser combinados para explorar a forma como o desenvolvimento desses gigantes florestais mudou em resposta aos humanos durante períodos chave da história humana nos trópicos".
Algumas espécies de árvores crescem há milênios, absorvendo os impactos de seu entorno, afirmam pesquisadores. Por exemplo, vários fatores, como assentamentos humanos e indústria, podem impactar em como as árvores crescem.
Em regiões tropicais do mundo, os cientistas utilizam há muito tempo as árvores para conhecer as mudanças climáticas e as tendências ambientais. As árvores crescem sazonalmente, formando "anéis" em seu tronco, que são utilizados para conhecer as anteriores mudanças climáticas.
Estes padrões de crescimento também podem ser usados para estudar a atividade humana – algo que geralmente é pouco considerado por ecologistas, segundo Roberts.
"Assim como diferentes eras podem ser catalogadas e datadas, podemos de fato catalogar o 'antigo DNA' das árvores em uma mesma floresta para observar como as populações podem ter mudado ao longo do tempo", acrescenta o pesquisador. "Alterações nos genes podem ocorrer após intensa desflorestação, ou certos genes podem ser selecionados por humanos buscando uma característica em particular".
Da mesma forma que os arqueólogos escavam camadas para produzir uma "estratigrafia", podemos olhar para a "estratigrafia viva" das árvores para ver como o seu crescimento mudou, em que momento, e como ela pode se relacionar com o clima e as atividades humanas.
No estudo, os autores apontaram dois casos de pesquisas recentes que revelaram mais informações sobre a história humana a partir de árvores na região.
FOTOARENA / FOLHAPRESS
Terreno desmatado e queimado é visto na floresta Amazônica nos arredores de Porto Velho, em Rondônia
O primeiro caso foi o trabalho de Victor Caetano Andrade – o principal autor do último estudo do Instituto Max Planck para Ciências da História Humana – que investigou castanheiras na Amazônia. Sua pesquisa demonstrou como longos períodos da história alteraram as árvores que cresciam na cidade de Manaus.
"Estudando uma destas árvores, ele demonstrou que a chegada dos colonizadores e o desenvolvimento de Manaus levou ao colapso das populações indígenas, assim como as estratégias tradicionais de organização destas árvores", agrega Roberts.
O segundo caso discute o trabalho de várias equipes de pesquisadores que avaliaram como a variação genética de árvores economicamente importantes – como mamoneiras, palmeiras e castanheiras – estão fortemente associadas com áreas de intensa ocupação humana antes da colonização nas Américas.
Os autores argumentam que reconhecer o valor das árvores como "cápsulas do tempo" realça a necessidade de proteger as florestas tropicais, que são algumas das mais afetadas pelas mudanças climáticas.
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