Crença afrobrasileira
Num
terreiro de candomblé, praticamente todos os membros da casa participam
dos preparativos, sendo que muitos desempenham tarefas específicas de
seus postos sacerdotais. Todos comem no terreiro, ali se banham e se
vestem. Às vezes, dorme-se no terreiros noites seguidas, muitas mulheres
fazendo-se acompanhar de filhos pequenos. É uma enormidade de coisas a
fazer e de gente as fazendo. Há uma pauta
a ser cumprida e horários mais ou menos previstos para cada atividade,
como “ao nascer do sol”, “depois do almoço”, “de tarde”, “quando o sol
esfriar”, “de tardinha”, “de noite”. Não é costume fazer referência e
nem respeitar a hora marcada pelo relógio e muitos imprevistos podem
acontecer. No terreiro, aliás, é comum tirar o relógio do pulso, pois
não tem utilidade. Durante a matança, os orixás são consultados por meio
do jogo oracular para se saber se estão satisfeitos com as oferendas, e
podem pedir mais. De repente, então, é preciso parar tudo e sair para
providenciar mais um cabrito, mais galinhas, mais frutas, ou seja lá o
que for. Em qualquer dos momentos, orixás podem ser manifestar e será
preciso cantar para eles, se não dançar com eles. Os orixás em transe
podem, inclusive, impor alterações no ritual. Eles podem ficar muitas
horas “em terra” enquanto todos os presentes lhes dão atenção e tudo o
mais espera. Durante o toque, a grande cerimônia pública, a presença não
prevista de orixás em transe implica alargamento do tempo cerimonial,
uma vez que eles devem também ser vestidos e devem dançar. A chegada de
dignitários de outros terreiros, com seus séquitos, obriga a homenagens
adicionais e outras sequenciais de canto e dança. Embora haja um roteiro
mínimo, a festa não tem hora para acabar. Não se sabe exatamente o que
vai acontecer no minuto seguinte, o planejamento é inviabilizado pela
intervenção dos deuses.
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