O No esoterismo do Islã ele foi designado como o “nada supra-essencial”: é precisamente o que o zero significará desde que se admita que o zero “existe”. A passagem do Zero ao Um, do Um-que-não-é ao Um-que-se-revela, corresponde à diferença que se estabelece, na Cabala, entre o “nada” e o “eu” de Deus (do ain ao ani, do En-Sof ao Deus criador). A mesma distinção que faz Mestre Eckhart entre Gottheit e Gott, ou seja, entre a deidade do fundamento e Deus tal como se deixa apreender, ou ainda, em outros termos, entre o deus absconditus (o deus oculto) e o deus revelatus (o deus revelado), entre as trevas essenciais e o lampejo da luz, do qual Jocob Boheme nos fala nos Mysterium magnum. declara Basílio de Alexandria sobre esse Deus).
A primeira dificuldade de interpretação do presente versículo está em sua fase inicial: “A terra era informe e vazia”. Ora, “sem forma e vazia” simplesmente eqüivale a “não existir”. A segundo frase nos diz que “havia trevas sobre a face do abismo”. Mas, que abismo? Há que se entender aqui que o “abismo” era o Espaço. Logo, o Espaço coexistia com Deus e era anterior à Sua manifestação. Diz a terceira frase: “e o Espírito de Deus pairava sobre as águas”. Outra dificuldade grande, pois, se, como se viu, a terra simplesmente não existia por ser “sem forma e vazia”, se o “abismo” era o Espaço, que “águas” eram estas por sobre as quais “pairava” o Espírito de Deus”. Ao que parece, o autor do versículo não tinha uma imagem própria para dar a idéia de que o Espírito de Deus era superior a tudo e, assim, colocou estas “águas” apenas para dar a entender que aquele Espírito se sobrepunha a tudo. Mas, sem dúvida ele já existia e pairava, então, no NADA!
Assim, o NADA não era um vazio absoluto. Nele já existia o Espírito de Deus que ainda não se manifestara. Conclui-se, pois, que o NADA, ou seja o Espaço preenchido pelo Espírito de Deus, foi anterior a tudo e dele partiram todas as coisas. O NADA é simbolizado na escala numérica pelo ZERO. O ZERO é, pois, a representação simbólica do Espaço absoluto, intangível e incompreensível para a mente humana, mas que portava em si o Espírito de Deus, ainda imanifestado, mas que sobre ele, ou nele, pairava. A figura mais apropriada, então, para nos dar uma idéia de Deus é o NADA que nos sugere algo sem forma, sem consistência, sem limites e, portanto, invisível, intangível e infinito. Inidentificável por faltar elementos por nós conhecidos capazes de submetê-Lo a uma comparação! No entanto, Ele já existia, pois o Seu Espírito “pairava” no Espaço. Os ocultistas denominam isto o SER no NÃO SER, isto é o ZERO, ou seja, o Espaço com todas as coisas ainda latentes que só se tornariam realidade depois que o Espírito de Deus nelas Se manifestasse.
A EXISTÊNCIA palpitava, pois, na NÃO EXISTÊNCIA, o SER no NÃO SER, enquanto a CAUSA sem CAUSA (Deus) envolvia a EXISTÊNCIA e a Eternidade envolvia o Templo!
A partir do Um revelado, a divisão pode então se fazer no dois, sem introduzir a dualidade (já que Pai e Filho são um só), mas a dualidade de princípios, tal como os pares de opostos Yin e Yang. Aqui existem dois caminhos possíveis; de acordo com a via chinesa, essa dualidade se traduz por uma complementaridade: dois é o número da mulher, o que tornará todas as cifras pares femininas. Já entre os gregos, por um antagonismo declarado, o dois é também a cifra do Diabo (dia
significa ‘dois’ em grego), que se opõe a Deus e introduz a divisão do Bem e do Mal.
A quaternidade pode, então, ser tanto a adição de duas dualidades (a mulher e o Diabo reunidos, que forma a totalidade da criação maléfica), quanto a adição da Trindade mais um elemento: seja a Virgem (que marca a completude do divino pela introdução de Sofia), seja o Diabo (que completa a divindade em sua parte de sombra, tal como se vê nas relações de Lúcifer com Deus). Neste último sentido, designa a criação tal como fomos levados a vivê-la, atormentados que somos entre os poderes de Satã e a graça do amor divino.
Entre os árabes, como conseqüência direta de sua concepção dos três primeiros números, o quatro é a assinatura da matéria prima a partir da qual vai se manifestar todo o universo sensível: cinco será então a Natureza, seis o símbolo do Corpo do Mundo, sete o número dos planetas, oito a cifra dos quatro elementos e nove o “último degrau dos oito universais”, que correspondem a todas as criaturas, que são ao mesmo tempo realidades derivadas dos elementos e compostas com eles.
Torna-se evidente a equivalência que tende a ser feita implicitamente entre a mulher e o Diabo: e aí se inclui a enigmática figura de Lilith; é a Eva no Paraíso que escuta a serpente; serão todas as feiticeiras que a cristandade lançará à fogueira; é toda a ginecofobia tradicional de nossa cultural e o terror que o homem prova diante da mãe, onde lê o poder da morte, e diante da mulher que o ameaça de destruição.
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